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terça-feira, 10 de março de 2009

Zeca Baleiro faz show gratuito em Osasco marcando início das obras do SESC na região

No dia 1º de novembro de 2008, Osasco foi palco de um show que pode marcar a história não só da cidade, mas de toda região oeste. A Prefeitura em parceria com o SESC promoveu mais um encontro do Circuito Sesc de Artes, que já havia trazido o show do Lenine no mês de abril e que percorreu mais de 82 cidades do interior, Litoral e Grande São Paulo. Para finalizar o circuito com chave de Ouro e comemorar o início das obras da sua nova unidade na cidade, trouxe o cantor maranhense Zeca Baleiro. Aos 42 anos, já são mais de 12 anos dedicados à música. Com 08 discos lançados e o próximo previsto já para o final deste mês, já teve suas composições interpretadas por Gal Costa, Vange Milliet, Adriana Maciel, Rita Ribeiro, Reanato Braz. Sua música deriva de muitos ritmos tradicionais brasileiros: samba pagode baião com elementos do rock, pop e musica eletronica com um modo muito particular de tocar violão. Suas letras contêm de forma inteligente, humor e poesia.
Com um show impecável, repleto de luzes, com muitos músicos e o repertório da sua última turnê, o cantor encantou os mais de 06 mil fãs que assistiram ao show na Concha Acústica da FITO, que por sinal fica atrás do terreno doado pela Prefeitura ao SESC para que possa ser construído o novo complexo. A apresentação durou aproximadamente 02 horas e trouxe sucessos do cantor como “Telegrama”, “Bandeira”, “Salão de Beleza”, “Heavy Metal do Senhor”, e músicas do seu último álbum “Coração do Homem Bomba”.
Antes do show, o cantor recebeu nossa reportagem e concedeu uma entrevista. Sempre muito bem humorado, irreverente e com olhar crítico em relação a música e a sociedade em geral, Zeca Baleiro falou sobre suas composições, carreira, música, comportamento e sobre a importância do SESC à cidade de Osasco.


A canção “Lenha” é um dos seus marcos. Gostaria que você dissesse como foi o processo de criação e onde ela nasceu.
Até onde eu me lembro eu estava embriagado. Foi uma música que eu fiz na madrugada, uma situação que eu não me recordo muito bem. Eu estava sozinho e queria fazer uma música sobre essa dificuldade, às vezes de ter um tema que justifique uma canção. Tentei me aproximar um pouco daquelas canções do Walter Franco, circulares, sempre girando em torno do mesmo modo. A história mais curiosa dela é que eu não a considerava pronta, e a Rita Ribeiro ouviu num cassete e resolveu gravar. E eu não queira que ela gravasse. Eu falei “Não, essa música não está pronta”. E por incrível que pareça ela gravou, mesmo com a minha oposição e a música foi o maior sucesso do primeiro disco dela. Depois me foi sugerido que gravasse no Vô Imbolá (1999), só que eu não pretendia gravar, mas o Mazola, o diretor artístico da gravadora me sugeriu isso e eu usei como moeda de negociação, porque eu queria gravar umas outras coisas estranhas e aí eu negociei “Eu gravo essa, mas eu gravo também isso, isso e aquilo”, ela acabou também se tornando um dos meus maiores sucessos. Eu não acho que é uma bem acabada, sou muito auto-crítico com ela, só isso. Mas ela tem esse poder, ela seduz as pessoas de todos os traços sociais de todos os cantos e acabou virando a minha música mais gravada. A Simone gravou, o Rio Negro e Solimões gravaram, inclusive uma versão que eu gosto muito, já ouvi bandas gaúchas tradicionalistas, já ouvi bandas de forró lá do Ceará, enfim, tem versões pra todo gosto. É sempre bom um artista ter um mega hit assim, porque quando as coisas estiverem difíceis, você saca da manga, posso não tocá-la quando quiser, mas é uma coisa que está ali, se precisar. É meio um cavalo de batalha, se precisar, está na mão.

Na música “Telegrama” você canta “tava mais bobo que banda de rock”, e em “Fiz Esta Canção”, você canta “eu sou puro rock and roll, com meus pobres três acordes”. A intenção real nas suas canções é de brincar com esta questão dos clichês, de rótulos e a dificuldade das pessoas em somarem ingredientes diferentes em uma mesma panela?

É de brincar com os clichês, com essas opiniões formadas. Essa ironia a banda de rock, esse veneno, é porque o rock se desfigurou muito. A atitude é uma coisa mais cênica, mais midiática do que real, não há rebeldia. Você vê a banda de rock no comercial de refrigerante, em comercial de chinelo, sandália e tal. Então assim, a origem do rock n roll era a transgressão, a rebeldia, insurgência, irreverência e hoje tudo isso foi cooptado de certa maneira pela indústria cultural. Então quando eu falo “tava mais bobo que banda de rock” é porque as bandas de rock, com raríssimas exceções... Você vê essas bandas de Emo, é uma tristeza aquilo, uma coisa derrotada, aquele romantismo, que é anti-rock’n roll. Não que o rock também não tenha canções de amor, mas esse romantismo, eu falo que esse Emo Core é um pagode distorcido. Falta essa atitude verdadeira, visceral do rock. Uma vez eu fui gravar aquele programa do Tony Beloto, “Afinando a Língua”, que ele tem na TV Futura e eu toquei essa música. Aí ele falou “você me atingiu duplamente” porque a música fala “mais solitário que paulistano” e “mais bobo que uma banda de rock” e eu falei que não era nada pessoal. Titãs, por exemplo, não estaria nessa lista, mas é uma ironia. No outro caso, é uma letra da Matilda que eu finalizei, uma parceira minha carioca, “eu sou puro rock’n roll”, brincando com esse contra ponto entre MPB e essa oposição. Talvez não devesse mais existir entre MPB e rock’n roll porque ambos estão contaminados um pelo outro. Não aquela MBP clássica dos tempos de Milton e João Bosco. Às vezes me catalogam como MPB, mas o que eu faço às vezes também tem uma levada de rock, tem também dessa coisa de eletrônico recente, da qual a música não pode mais prescindir, de samba. Se bobear a música que eu mais ouvi foi samba. Minha mãe cantava clássicos de Ismael Silva, Geraldo Pereira, Wilson Batista, Noel Rosa, então é muito tolo hoje querer rotular as fronteiras entre os gêneros, é muito fina, se quebrou, mas tudo isso são comentários, eu gosto do rock.

Fale sobre a importância do SESC e sobre o show que você vai apresentar hoje.
Pra mim é uma honra. A cidade precisa e merece. Certamente essa unidade vai trazer mais vida cultural. Eu viajo muito por esse circuito do SESC do interior e a gente vê que a cidade que tem, tem uma vida cultural mais intensa, as pessoas são mais bem informadas, a pessoa tem a cultura de ir aos shows, às exposições e isso traz uma coisa muito bacana, com ingressos acessíveis e às vezes gratuitos, traz coisas muito boas para a cidade.
O show que eu vou apresentar hoje é o mesmo da turnê que eu vejo fazendo desde o final de agosto “Coração do Homem Bomba” - Volume. E agora no final de novembro sai o Volume 2. É um show muito calcado no disco, tem metais, é bem dançante, é quase um baile e está sendo muito divertido de fazer. Estreei em São Paulo no Citibank Hall, antigo Palace, há duas ou três semanas atrás e aqui nos arredores da grande São Paulo a primeira cidade é Osasco, a gente vai fazer Santo André, ABC e tal. Vai ser gostoso, já vi ali o anfiteatro.


Pra você, qual o destino da música com essa crise anunciada da indústria fonográfica?
Acho que vai ser o destino de sempre, só que vai mudar os meios de propagação, já está mudando. Já está se perdendo aquela cultura de comprar discos, de ouvir com a família, como meus pais ouviam, talvez os meus avós. Mas a importância da música popular na vida das pessoas vai permanecer talvez menor, mas é impossível viver sem música. O Nietzsche dizia que a vida sem música seria um erro, ele estava se referindo a uma outra música, a música clássica, erudita, mas a música de qualquer jeito faz parte da vida, da história pessoal das pessoas. Tem gente que demarca um momento da vida por causa de uma música. Eu tenho música me lembram a minha infância, uma passagem triste, uma perda, um encontro amoroso, qualquer coisa assim, então a música popular especialmente tem esse poder de demarcar certos momentos importantes. Acho que nunca vai perder a importância na vida das pessoas, talvez diminua. Você tem menos tempo físico, tempo real de ouvir música. Você acaba ouvindo em Ipod, em aviões, nas esperas, no carro, no ônibus, no trem, mas nunca vai deixar de existir. A gente como artista tem que se adaptar a essas novas formas de propagação, eu estou fazendo o que posso. Já ponho músicas para downloads no meu site como forma de medir o alcance disso. No final do ano nós colocamos “Toca Raul” que é uma música que saiu do Volume 1, agora do Volume 2, desde setembro já tem 3 músicas disponíveis pra downloads gratuito, a coisa da venda pela internet, do download de uma música, ainda acho uma coisa complicada, não é fácil de fazer. Se alguém já tentou fazer, sabe que é difícil e essa coisa do cartão. Tem que se achar formas criativas, fáceis que estimule o cara a comprar e não desistir no meio da operação. Mas eu não vejo como uma coisa trágica, até deu maior liberdade para o artista. Antigamente o pessoal fazia um projeto, dependia se gravadora apoiasse, investisse grana. Hoje você pode ir para o fundo do quintal com um Pró-tools no computador, com dois bons microfones e talento, é obvio, e fazer um bom disco, aliás, tem muita gente fazendo isso.


Você não gosta muito de rotular a sua música e São Paulo é conhecido por ter muitas tribos e gêneros diferentes. A sua música busca atingir todas as tribos? O que você acha dessas tribos e suas variações?
Eu não ousaria atingir todas as tribos. Até porque o público que eu tenho já me basta. Agora eu acho que você sempre pode conquistar pessoas assim. O mundo, as pessoas foram ficando muito bitoladas com o passar do tempo. No meu tempo não tinha essas tribos. No meu tempo que eu falo quando eu era adolescente, nessa passagem que você está procurando identidade, procurando se firmar com uma identidade cultural, social, não tinha essa coisa de tribo. A gente ouvia Chico Buarque e ouvia Megadeth, Whitesnake, Black Sabbath, e ouvia Vinicius de Moraes e Toquinho, não tinha isso. Talvez porque ali onde eu tinha nascido, naquele ambiente, interior de Maranhão, não sei, não era nenhum centro urbano. Isso é uma coisa muito da urbanidade, essa coisa das tribos e eu nunca consegui entender o mundo assim. Não quero que meus filhos que estão entrando agora na adolescência sejam de tribo nenhuma, eu quero que eles bebam o que tem de bom no mundo. Se tem no rock, que vão ao rock. Se tem no samba, que vão no samba. Que aprendam as coisas. É muito limitador! Mesmo o rádio, por exemplo, eu ouvia rádio na infância, era um universo muito rico porque tocavam músicas de vários tipos em uma mesma estação, hoje não. As rádios são segmentadas e isso limita e empobrece. Se tem que ouvir samba tem que ligar naquela rádio, se tem que ouvir pop tem que ligar naquela outra, isso empobrece, limita, diminui a possibilidade surpresa do ouvinte. Eu não faço música para a tribo, agora eu sei que vai de tudo no meu show, desde metaleiro até mauricinho.

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Reeleito a Prefeitura de Osasco ainda no primeiro turno, o Prefeito Emídio de Souza compareceu ao evento e, com um tom bem animador, falou sobre a apresentação de Zeca Baleiro e sobre o SESC. Segundo o prefeito, a estrutura trará qualidade e enriquecimento cultural para a cidade. “O Zeca para nós é um artista da melhor qualidade, uma pessoa queridíssima em Osasco e que mostra o que vai significar o SESC para a nossa cidade e até para nossa região. É um enriquecimento cultural, é algo que vai realmente abrir portas para a cultura da cidade. O SESC onde se instala tem sido um equipamento da melhor qualidade e a presença do Zeca hoje, que já teve meses atrás a presença do Lenine, mostra que o SESC vem com uma programação para marcar época na cidade.” Completa o prefeito.

O Superintendente de Comunicação de SESC, Ivan Gianini, diz que o SESC já planejava montar sua estrutura em Osasco há muito tempo e que graças à colaboração da Prefeitura, o projeto sairá do papel. “Primeiro lugar eu gostaria de dizer que a gente está muito feliz de estar chegando a Osasco, a gente não podia ficar longe dessa cidade por mais tempo, embora a gente tenha algumas ações que a gente faz aqui pontualmente, agora a gente recebeu um terreno da Prefeitura como doação e vamos iniciar nossas obras daqui mais ou menos um ano, a parte do projeto definitivo.”
Gianini revela que a estrutura do SESC Osasco será tão completa quanto as já existentes no Estado e que o conteúdo cultural também será o mesmo. “Seria uma unidade como todas as unidades que as pessoas já conhecem do SESC, uma unidade completa, tendo piscina, ginásio, teatro, espaço para exposição de arte, espaço para as crianças, programas para idosos, programas para juventude, ginásio coberto, restaurante. Então, nós estamos junto com vocês e muito felizes e celebrando a nossa chegada aqui na cidade.”
Para finalizar, o Superintendente enaltece o que já foi feito e a previsão de término do complexo. “Nós já iniciamos aqui em abril com um espetáculo feito pelo Lenine, hoje estamos recebendo um outro show e nossa idéia é que a partir de fevereiro já tenhamos aqui uma estrutura mínima para começar a atender as pessoas, com lonas, com quiosques, quadras esportivas e coisas dessa natureza. Vamos trazer lazer, cultura e esporte para a cidade. Esperamos que a obra fique pronta no final de 2011 mais ou menos, você sabe que obras de engenharia a gente sempre tem surpresa, mas a princípio é que a obra fique pronta em novembro de 2011.” Conclui Ivan Gianini.